“Well-run libraries are filled with people because what a good library offers cannot be easily found elsewhere: an indoor public space in which you do not have to buy anything in order to stay.” Zadie Smith

domingo, 16 de maio de 2010

AS LEITURAS DE INFÂNCIA DE JOÃO UBALDO RIBEIRO


Claro!... Foi no Blog do Galeno que li esta deliciosa recordação que o escritor João Ubaldo Ribeiro partilha connosco sobre as suas leituras de infância:
Ah, nem conto a vocês como era, fico com medo de acharem que estou mentindo. Mas sei que não estou, quando lembro o dia começando a se esgueirar por entre as frestas dos grandes janelões do casarão térreo em que morávamos, e eu, menino de oito ou nove anos, pulando afobado da cama, para mais uma vez me embarafustar pelo meio dos livros. Quase febril, ansioso como se o mundo fosse acabar daí a pouco, eu nem sabia com quem ia me encontrar e aonde viajaria, em nova manhã encantada. Não havia problemas para eu me embolar com os livros, porque eles não só estavam junto à minha cama, mas espalhados da cozinha ao banheiro, em estantes para mim altas como torres, algumas das quais tão pejadas que volta e meia estouravam, viravam cachoeiras de papel e vinham abaixo, dando a impressão de que as paredes e o chão se dissolviam em livros.

Problema havia na escolha, porque nenhum deles era proibido por meu pai, a não ser, como muito depois ele me contou, os que ele queria que eu lesse, me escondendo sem saber que tinha caído num ardil. Podia ser mais um volume da coleção de Tarzan que eu já tinha lido praticamente toda e não acabava nunca, porque repetia os favoritos. Não, talvez o Dom Quixote, em dois tomos imponentes que eu mal conseguia sopesar e cheio de palavras portentosas que eu não compreendia e não ousava me esclarecer com o velho, porque já conhecia a resposta.
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